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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

AnO NoVo cHeGaNdO...


Quero tudo novo de novo. 
Quero não sentir medo. 
Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais. 
Viajar até cansar. 
Quero sair pelo mundo. 
Quero fins de semana de praia. 
Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. 
Quero ver mais filmes, ler mais. Sair mais. 
Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. 
Quero morar sozinho, quero ter momentos de paz. 
Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. 
Quero ser feliz, quero sossego. 
Quero me olhar mais. 
Tomar mais sol e mais banho de chuva. 
Preciso me concentrar mais, delirar mais. 
Não quero esperar mais. 
Quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. 
Quero conhecer mais pessoas. 
Quero olhar para frente. 
Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. 
Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. 
Quero ousar mais. 
Experimentar mais. 
Quero menos ‘mas’. 
Quero não sentir tanta saudade. 
Quero mais e tudo o mais. 

"E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha." ‎(FernandoPessoa)

ADEUS 2013...


domingo, 29 de dezembro de 2013

UmA nOiTe SenSaCiOnAl...


"Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante."


Charles Chaplin

FELIZ ANO NOVO


Feliz Ano Novo!

Todo ano é uma promessa...
Quantas dúvidas temos:
o que fazer, como será,
quais caminhos trilhar?


"Toda caminhada começa com o primeiro passo."
Então continuemos nossa caminhada...

Buscando ajuda, apoio,
ou simplesmente,
uma companhia.

Coloque as mãos na massa:
junte disposição, ânimo,
carinho e respeito.
Acrescente seus estudos,
momentos de planejamento e
de avaliação.
Leve tudo ao coração,
passando sempre pela razão...

Cultive seus sonhos,
sua imaginação,
sua criatividade!
Todos somos capazes,
basta acreditar!

Educar é tornar as pessoas felizes,
pois descobrem suas capacidades,
percebem suas potencialidades.
Educar é humanizar.
Educar é dar condições
para se tornar cidadão.
Juntos
nessa rede
de pessoas
que vivem
pela, para e na
Educação.

Texto de : Ivanise Meyer


LiNdA SeMaNa...


sábado, 28 de dezembro de 2013

BoM DiA!


" O olho do ser humano serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio."


Machado de Assis

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

E aí... Fim-de-semana ou fim de semana!?



A forma correta de escrita da locução é fim de semana. A locução fim-de-semana passou a estar errada desde a entrada em vigor do Novo Acordo Ortográfico, em janeiro de 2009. Devemos utilizar a locução fim de semana sempre que quisermos referir o período de tempo, geralmente de lazer, referente aos dias sábado e domingo.

Segundo o Novo Acordo Ortográfico, não deverá ser utilizado hífen nas locuções substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais.
Exemplos: fim de semana, dia a dia, sala de jantar, cão de guarda, cor de vinho, café com leite, à toa, …

Serão exceções a esta regra algumas locuções consagradas pelo uso, com significado próprio: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará e à queima-roupa.

Exemplos:
No próximo fim de semana viajarei para Búzios.

Passei o fim de semana descansando.


Você virá me visitar no fim de semana?


PeSSoAs LiNdAs... Um FiM de SeMaNa ESPETACULAR para NóS!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A celebração do Natal de Jesus


A celebração do Natal de Jesus foi instituída oficialmente pelo Papa Libério, no ano 354 d.C.

Segundo estudos, a data de 25 de dezembro  não é a data real do nascimento de Jesus. A Igreja entendeu que devia cristianizar as festividades pagãs que os vários povos celebravam por altura do solstício de Inverno.

Portanto, segundo certos eruditos, o dia 25 de dezembro foi adotado para que a data coincidisse com a festividade romana dedicada ao "nascimento do deus sol invencível", que comemorava o solstício do Inverno. No mundo romano, a Saturnália, festividade em honra ao deus Saturno, era comemorada de 17 a 22 de dezembro; era um período de alegria e troca de presentes. O dia 25 de dezembro era tido também como o do nascimento do misterioso deus persa Mitra, o Sol da Virtude.

Assim, em vez de proibir as festividades pagãs, forneceu-lhes simbolismos cristãos e uma nova linguagem cristã. As alusões dos padres da igreja ao simbolismo de Cristo como "o sol de justiça" (Malaquias 4:2) e a "luz do mundo" (João 8:12) expressam o sincretismo religioso.

Querendo ler mais sobre, acesse:

ChEgOu 25 de dEzEmBrO...


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Um FeLiZ NaTaL...


Desejo a vocês e as suas famílias um Feliz Natal,com amor,paz,alegria e união.

Para o ano novo, desejo que...

"...se for pra fazer guerra, que seja de travesseiro.
Se for pra ter solidão, que seja no chuveiro.
Se for pra perder, que seja o medo.
Se for pra mentir, que seja a idade.
Se for pra matar, que seja a saudade.

Se for pra morrer, que seja de amor.
Se for pra tirar de alguém, que seja sua dor.
Se for pra ir embora, que seja a tristeza.

Se for pra chorar um dia, que seja de alegria.
Se for pra cair, que seja na folia.
Se for pra bater, que seja um bolo.
Se for pra roubar, que seja um bolo.
Se for pra matar, que seja de desejo."


Alvaro Socci

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

CRÔNICA: O CIRCO PEGOU FOGO!


CRÔNICAS: RUBEM ALVES

O CIRCO PEGOU FOGO!


Nossa fama é a de um povo bem-humorado. Aqui tudo vira piada. E não sem razões. Há palhaços muito engraçados no nosso circo.
  
Rimo-nos dos poéticos marimbondos de fogo do presidente Sarney, das suas fantasias de Cinderela, do seu voo de um milhão de dólares para Paris - toda Cinderela deve ter uma carruagem de ouro - e do seu retorno desenxabido, porque nenhum príncipe o tirou para dançar. Voltou sem ter perdido nenhum sapatinho de cristal.

 Rimo-nos da coisa roxa do Collor, que revelou a inspiração fálica do estilo presidencial, representada nos seus gestos de Rambo. Rimo-nos mais ainda da sua falta de humor diante do ministro Magri... Se tivesse sabido rir a tempo, teria evitado muitas dores de cabeça. Ah! O ministro Magri, humorista nato! Haverá coisa mais engraçada que suas insólitas tentativas de ampliar o dicionário, suas aventuras em Genebra que, acho, ele confundiu com o Disneyworld, e sua revolucionária tese biopsicológica sobre a identidade entre o cachorro e o homem, o que nos deixa sem saber se é a inteligência do cachorro que é igual à do ministro, ou se é a do ministro que é igual à do cachorro. Rimo-nos ainda das bicicletas e guarda-chuvas do ministro da Saúde, que certamente lhe valerão uma indicação para o prêmio Nobel de Medicina.
  
Rimo-nos do inglês da primeira-dama. Não que ela tivesse obrigação de saber inglês. Mas quem não sabe, a prudência manda calar. Se me convidarem para dançar o tango, recusarei. Pois ela aceitou o convite para falar inglês com a princesa Diana, estatelando-se no chão ao primeiro passo. Rimo-nos das suas lágrimas - talvez por uma associação direta com as famosas lágrimas de crocodilo - pois não se acredita muito que a família Malta leve as lágrimas a sério.

Rimo-nos das ridículas aventuras amorosas do ministro e da ministra, transformadas em best seller - não por valor literário ou por excitação erótica, mas porque temos uma fome insaciável do grotesco.
  
E rimo-nos do porta-voz do governo, que adota como norma não os processos de inteligência, explicação e argumentação que a civilização consagrou, mas algo que só pode ter sido aprendido numa academia de
boxe: “Bateu, levou...” Reino de Avilã, república de Alagoas...

De Gaulle, que não gostava de circo, reclamou e disse que este não é um país sério. Todo mundo se abespinhou. Sem razão. Pois se rimos tanto, é porque lhe damos razão. Parece que a sabedoria política que aprendemos com a história pode se resumir no velho ditado que afirma que “rir é o melhor remédio”.

De fato, riso é remédio. Na clínica psicanalítica, quando um paciente começa a ter a capacidade de rir, a gente pode ter certeza de que alguma coisa boa está acontecendo na sua alma.

Mas não é qualquer riso. Há um riso doentio, mórbido, que é sinal de que todas as esperanças foram perdidas. Li em algum lugar - não me lembro onde; acho que foi no Camus - uma referência ao humor patibular: o condenado se ri do nó da forca, à sua frente. Não porque seja engraçado, mas porque o riso aparece como a única saída diante do terror. O que me faz lembrar uma velha piada. O professor levava os alunos numa visita educacional pelo zoológico e explicava as características de cada bicho. “Esta é a hiena listrada, cujo nome científico é Hyaena hyaena. Tem relações sexuais uma vez por ano e alimenta-se de fezes. Notem que sua voz soa como uma gargalhada”. Um menininho levantou a mão: “Professor, posso fazer uma pergunta? Se ela tem relações sexuais uma vez por ano e come fezes, de que é que ela está rindo?”

Seremos parentes da hiena? Ou talvez tenhamos aprendido a sabedoria dos norte-americanos que inventaram uma norma para enfrentar situações dolorosas e inevitáveis? “Se você vai ser estuprado e nada pode fazer para evitá-lo, relaxe e goze o mais que puder.”
  
E assim, diante do nó da forca que o poder legítimo e democrático nos preparou, pomo-nos a rir como se fosse engraçado. Mas não há nada engraçado que mereça o riso. Nosso riso é doença. Não nos damos conta do grau de humilhação a que estamos sendo submetidos pelos donos do poder. A reação sadia diante deste circo só pode ser a de indignação. Se continuamos a rir, é porque sofremos de um grave caso de humor patibular.
  
Marx pensava que o circo iria acabar quando os artistas, empregados e explorados fizessem uma revolução e expulsassem os donos do espetáculo. Equivocou-se. Quem continua empregado ainda tem algo a perder. Fazem cara feia, mas basta que o leão ruja para que se ponham a rir patibularmente. São os que nada mais têm a perder que preservam a capacidade de indignação. Coisa que Marcuse já percebera, muitos anos atrás, ao indicar o lugar onde a indignação ainda vive: “Nos párias e marginalizados, nos desempregados e naqueles que não podem ser empregados, e que sobrevivem por detrás da base popular conservadora da sociedade.” E nós acrescentaríamos: nos aposentados, sem emprego, sem poder, sem sindicato, sem muita vida pela frente. Eles nada têm a perder. Passaram a vida inteira pagando por um bilhete de entrada, só para se verem barrados pelos leões-de-chácara. Bem, se não podem entrar, não se consolam dizendo que “rir é o melhor remédio”. Só lhes resta botar fogo no circo. Escreve-se, assim, um novo final para um manifesto de transformação da sociedade: “Desesperados do mundo inteiro: uni-vos!”

  

(Correio Popular, 1991 ou 1992)

Uso da vírgula : “OU” e a vírgula


1 – A vírgula antes do “ou” exprime ideias contrárias.
Ex. Isto, ou aquilo.

2 – se “ou” separa palavras: não há vírgula.
Ex. João ou Pedro…

3 -  Se “ou” separa orações: há vírgula.

Ex. Ou entra, ou sai.

A pronúncia correta é 'pêgo','pégo' ou pegado?


Pegado é a forma regular. A forma abreviada (pego), de criação popular, se impôs, e hoje ela é legítima.

Quanto à pronúncia, pode-se dizer pêgo ou pégo.

A forma regular, “pegado”, é usada quando a frase está na voz ativa, ou seja, quando o verbo auxiliar é “ter” ou “haver”.

Exemplo:
O senador já havia ou tinha PEGADO o táxi quando…
A vereadora tinha PEGADO as provas da fraude.

A forma irregular, “pego”, se usa quando a oração está na voz passiva, isto é, com o auxiliar ser

Exemplo: 
João foi PEGO com a mão na massa.
O deputado foi PEGO em flagrante. 


 Se usarmos somente a forma pegado, não teremos dúvidas de que estaremos falando corretamente. Mas a forma pego também está correta mesmo que a pronúncia seja pégo ou pêgo.

Fonte: (adaptado)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

10 DE DEZEMBRO... Há 93 anos nascia Clarice Lispector




"Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geléia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – , que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.”

10 de dezembro... DIREITOS HUMANOS


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

pEnSaMeNtO do DiA!


Uma boa cabeça e um bom coração formam sempre uma combinação formidável.

Nelson Mandela

Discurso de posse, em 1994 (Mandela)



"Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes.
Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta.
Nos perguntamos: "Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?" Na verdade, quem é você para não ser tudo isso?...Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você.
E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo".

(Discurso de posse, em 1994)

Nelson Mandela

A EdUcAçÃo... Mandela


PeLa LiBeRdAdE...

"Ser pela liberdade não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que respeite e melhore a liberdade dos outros."

Nelson Mandela (1918-2013)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Pensamento do dia!


“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! 
Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”


Paulo Freire

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

pensamento do dia!


"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra".


Rubem Alves

domingo, 1 de dezembro de 2013

O TERROR DO ESPELHO: Rubem Alves

 CRÔNICAS: RUBEM ALVES


O TERROR DO ESPELHO

Ao que tudo indica, comer um tijolo diariamente faz
mal à saúde. Mais que dois maços de cigarro. No entanto, nunca encontrei médico
que combatesse este pernicioso hábito. 
Falam do perigo do torresmo, das
picanhas engorduradas, das frituras, do açúcar, da vida sedentária, da
cerveja... Mas sobre o perigo da ingestão de tijolos o silêncio é total. 
Claro.Não é preciso. Ninguém deseja comer tijolos. 
A proibição aparece somente no
lugar onde mora o desejo. 

Os bombeiros só são chamados quando existe incêndio.
Está proibido (inutilmente) cobiçar a mulher (e o marido) do próximo. Por que
se cobiça, é óbvio. E também está comandado honrar pai e mãe, porque, imagino,
até os escritores sagrados sabiam sobre Édipo, a sinistra mistura de ódio e desejos
proibidos que estão misturados nas relações entre pais e filhos. E se está
proibido matar e roubar é porque estes desejos estão bem vivos dentro da gente.
A proibição revela sempre a presença do seu oposto, no lado do avesso,
escondido.


Vai isto como introdução à continuação de nossas
meditações demonológicas, já, iniciadas. Para absolver o diabo de uma acusação
injusta que sempre se lhe faz, de que ele coloca desejos impuros na cabeça dos
pobres mortais. Nada mais longe da verdade. Este poder não lhe foi concedido.
Não se pode colocar um desejo no coração de ninguém. O que se pode fazer é
abrir as portas para que os que já existem, trancados e silenciados, apareçam
na sala de visitas onde os convivas, na companhia grave de clérigos e
princípios de moral, falam sobre as coisas sobre que todos concordam e que não
fazem ninguém enrubescer. 
O diabo não joga porcaria dentro da fonte. Ele só
mexe o lodo que repousava no fundo da água limpa. E aí começam a surgir sapos,
cobras, escorpiões - e o rosto de Narciso vira coisa feia.

  
Mas não é só isto que as artes do diabo fazem
aparecer. O fundo das águas é lugar encantado, onde moram também lindas
criaturas, sereias, iaras, borboletas de asas coloridas, gaivotas planantes no
ar, barcos à vela entrando no mar, e até mesmo uma bela adormecida. Vivem lá,
submersas, esquecidas... Mas quem as submergiu? 
Nós mesmos. 
Algumas, por serem feias demais. 
Foram escondidas por vergonha, como antigamente se escondiam os
urinóis nos criados-mudos. Outras, por serem belas demais, ousadas demais,
livres demais, e faltar-nos coragem para tomá-las como companheiras: por medo
de voar, por medo de navegar, por medo de amar. 
A beleza faz convites que
assustam...

  
Pois é só isto que o diabo faz: acorda os desejos
que já moravam em nós. Ele não bota o ovo. Só quebra o ovo que nós botamos,
para ver o que tem lá dentro, se vida ou morte.


Sutil. Sutilíssimo. Os textos sagrados dizem que a
serpente era a mais sutil de todas as criaturas que Deus havia colocado no
jardim. Escorrega com fala mansa até o lugar onde moram os nossos desejos.
Cheguei a pensar que ela foi o primeiro psicanalista, pois ambos estão à
procura da mesma coisa: os desejos esquecidos.

  
É aí que começa a segunda parte da sua tarefa.
Primeiro soltou os desejos. Depois, como sutil testador, nos coloca a questão:
“Você sabe que não é possível ficar com todos. É preciso escolher. Se você
tivesse de rejeitar todos, menos um, qual seria o escolhido? Onde está o seu
coração? Qual é a sua verdade?” E começa a fazer como os oftalmologistas que
colocam uma lente e depois outra no nosso olho e dizem: “Esta ou aquela?” O que
é que você ama mais? Qual é a sua verdade? E nos vai despetalando, como quem
despetala uma flor, para ver o que sobra, para ver o que somos. Pois somos o
que desejamos. A alma é um espaço onde se ouvem as mais distintas melodias,
selvagens ritmos de tambores, cósmicos corais gregorianos, bandas de rock
metaleiro, flautas doces, canções de ninar, canções de amar, marchas militares
- tudo, ao mesmo tempo. E o diabo nos faz decidir: “Esta ou aquela?” Afinal,
qual é a sua?


E chegamos então a esta estranha conclusão: 
testador está a serviço do amor. Vai nos obrigando a decidir. Na medida em que
decidimos, os contornos de nosso rosto vão ficando cada vez mais claros,
refletidos na água da fonte.


Álvaro de Campos tem um verso que diz mais ou
menos assim: 
“Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos
outros fizeram de mim”. 
Intervalo, um espaço indefinido onde a minha verdade se
perdeu, enfeitiçada pelo pedido dos outros. Os outros pedem que não sejamos o
que somos; que sejamos só o que eles desejam. E ficamos sem rosto. Só máscaras.
Cebolas sem cerne, só casca. O diabo nos coloca entre o martelo e a bigorna e
vai nos forçando a tomar decisões. Pode ser que, ao final, tenhamos a
experiência suprema de horror. Quando, diante do espelho, não vemos rosto
algum, apenas os rostos de outros. Acho que é por isto que todo mundo fala mal
do diabo: porque, além de ser ferreiro de martelo e bigorna, é também
especialista em beleza, com espelho na mão. 
E o reflexo no espelho dói mais que
o martelo na bigorna...

  

(Correio Popular, 10/02/1991)

BoM DoMiNgO!

(͡๏̯͡๏)(͡๏̯͡๏)
( , ,)( , ,)¸.¸..¸.•´ ¸.•´.- 
¯**´¯**´¯`˜”*°•.•.¸¸´ ¸.

Lindo domingo... que a semana seja de muitas realizações para todos nós.



quinta-feira, 28 de novembro de 2013

AS VIÚVAS: Rubem Alves

CRÔNICAS: RUBEM ALVES

AS VIÚVAS
Com gesto de mão ela me tirou da poltrona onde eu estava assentado e me chamou para junto da janela da frente da casa. Os ramos e a folhagem de uma trepadeira cobriam o espaço aberto da janela, fazendo dela um lugar ideal para quem quer observar sem ser visto. E ela apontou para três modestas casas, do outro lado da rua.

“São as casas das viúvas”, ela explicou. Não fazia muito tempo a morte passara por lá, levando os três maridos. Agora elas estavam sós, as três velhinhas, nas casas vazias. Os vizinhos se compadeciam e imaginavam que elas deviam se sentir como aquelas mulheres sicilianas que, mortos os maridos, se cobrem com sinistras roupas negras, pelo resto de seus dias, para que todo mundo soubesse que sua vida havia acabado. Se continuavam a viver era porque a religião não lhes permitia pôr um fim à própria vida. Mas bem que gostariam que a morte chegasse logo...

Eu ficava aqui na janela, olhando para as casas fechadas, imaginando aquelas pobres criaturas lá dentro, sozinhas, tendo apenas a tristeza e a saudade como companhia... 
Foi então que comecei a notar sinais de que coisas estranhas estavam acontecendo naquelas três casas e naquelas três velhinhas. Aconteceu depois de passado aquele período em que, por medo do morto, todo mundo se sente na obrigação de fazer cara de tristeza e só de falar sobre os últimos momentos do falecido. Aconteceu que depois a vida foi voltando ao seu normal e a conversa ficou leve de novo... De repente – até parece que foi coisa de magia, pois aconteceu ao mesmo tempo -, as três velhinhas, que todo mundo imaginava mortas, começaram a florescer. E ficaram bonitas como nunca tinham sido quando seus maridos eram vivos!

Uma delas, que só usava birote, cortou e pintou o cabelo, e até mesmo começou a usar batonzinho. Com certeza voltou a conversar com um velho namorado, esquecido, abandonado, pendurado, calado, o espelho, que com a morte do marido reaprendeu a falar: “Não é mais preciso que você seja feia. Ele já se foi. Você está livre para ser bonita como sempre foi...”

A segunda sempre varria a calçada de chinelo, meia soquete e roupão. Começou a aparecer na rua com uns vestidos de cores vivas que nunca usara antes. De onde os teria tirado? De algum baú onde permaneceram trancados com bolas de naftalinas, à espera do grande dia? Ou teriam existidos só no baú dos sonhos proibidos, que a presença do marido não deixava realizar, e que agora voavam livres como borboletas que se libertam de seus casulos?

A terceira, de voz grave e sem sorrisos, falava por monossílabos, e poucos eram o que se lembravam de já ter visto um sorriso em sua boca. Pois, para surpresa de toda vizinhança, ela começou a cantar... Cantou velhas canções de amor, de outros tempos – certamente dos tempos em que ela se sentia como namorada...

A ressurreição das velhinhas me fez sorrir de alegria. Mas logo me dei conta do trágico da vida humana: foi preciso que a morte fizesse o seu trabalho para que a vida brotasse de novo. Lembrei-me então, de um terrível verso de Álvares de Campos: “Talvez seja pior para os outros existires que morreres... Talvez peses mais durando que deixando de durar...”.

É claro que os inocentes maridos tudo isso ignoravam e nada sabiam da vida que jazia sepultada sob o peso da sua presença. Se lhes fossem dado revistar os seus lugares, com certeza teriam dificuldades em reconhecer aquelas com quem haviam vivido (ou morrido) todos os seus anos. De qualquer maneira, teria sido tarde demais... que pena que, ás vezes, a vida tenha de esperar tanto para renascer da sepultura! Que pena que, ás vezes, a vida só tenha uma chance depois que a morte faz o seu serviço...

ENTRE DOIS AMORES: Rubem Alves

CRÔNICAS: RUBEM ALVES


ENTRE DOIS AMORES

O seu coração estava dividido entre dois amores. De um lado, um velho amor que se desfazia e do qual, se despedia. Tinha estado ligado àquela mulher por anos de afeto manso e tranquilo, de amizade real e sincera. Coisa alguma poderia negar este fato. Durante este tempo, ele se sentira como alguém que caminha por uma planície colorida, sem montanhas e abismos, o ar claro e sem brumas, sabendo exatamente o que o esperava. Seu amor havia alcançado aquela condição de certeza sem surpresas, livre dos sofrimentos do ciúme e das dúvidas que são o inferno dos apaixonados. E era isto que ele deixava para trás. E por isto sofria. Encontrara uma outra mulher cuja imagem, por razões que ele não podia compreender, despertara das cavernas da sua memória uma outra cena cheia de mistérios, de perfumes exóticos, de penumbras eróticas, onde crescia o fruto dourado da vida. E ali, nesta nova cena que se refletia nos olhos daquela mulher, e se via como um homem diferente, de corpo jovem dotado de asas, pronto a voar pelo desconhecido, em nada semelhante ao ser doméstico ruminante que morava na cena do seu primeiro amor.

Apaixonara-se por ela. Apaixonara-se pela bela cena que via como aura mágica, em torno daquele rosto. Apaixonara-se pela sua própria imagem, refletida naquele olhar. Queria tê-la para poder ter-se deste modo intenso que nunca antes experimentara. Era preciso dizer adeus. Deixar para trás a antiga companheira fiel, e a cena pálida, descolorida e monótona que aparecia em sua aura cansada. Assim são os velhos amores: fiéis e cansados. Mas a ideia de magoá-la o horrorizava. Chegar para ela e simplesmente dizer: "Estou apaixonado por outra mulher. Vou-me embora." - isto seria uma grosseria que ele nunca se perdoaria. Queria poupar-lhe a dor de ver-se deixada só, na plataforma da estação, enquanto ele partia. A dor de quem fica é sempre maior.

Parece-se com a dor após sepultamento, quando se volta para a casa, e o espaço se enche com a presença de uma ausência. Na verdade a dor da partida é maior que a dor da morte. Pois o morto se foi contra a vontade. Partiu me amando. Partiu triste por me deixar. Nenhuma alegria o espera. Por isto os pensamentos de quem ficou descansam tranquilos, sem serem perturbados por fantasias dos novos amores e prazeres à espera do que morreu. Pois nada o aguarda. A morte pode ser a eternalização do amor. A morte fixa a bela cena, enquanto a partida destrói a bela cena. O apaixonado sofreria menos com a morte da pessoa amada que com a sua partida para um novo amor. Quem quiser entender as razões dos crimes de amor terá de levar isto em consideração. Quem mata por amor é como um fotógrafo que deseja eternizar a imagem amada na bela cena. Não era isto que Cassiano Ricardo sugeria no seu poema ´ Você e o seu retrato`? Ele pergunta: Por que tenho saudade de você, no retrato, ainda que o mais recente? E por que um simples retrato, mais que você, me comove, se você mesma está presente? E depois de sugerir várias respostas ela faz a seguinte afirmação: Talvez porque, no retrato, você está imóvel, sem respiração.Você, viva, ingrata, é a permanente possibilidade da surpresa, do gesto que irá destruir a beleza. Mas, no retrato, você fica imóvel. Transforma-se em quadro. Quem mata por amor é um fotógrafo (cruel) que imobiliza a bela cena. E assim a coloca na parede, como objeto de saudade e devoção, para sempre. Bem dizia Roland Barthes que a única coisa que se encontra fixada na fotografia, qualquer fotografia, é a morte.

Sim, o que fazer? Como partir sem fazer sofrer demais uma pessoa boa, por quem se tinha um afeto sincero? Por vezes uma mentira é o melhor caminho. Há verdades cruéis e mentiras bondosas. Na encruzilhada ética entre a verdade e a bondade, que a bondade triunfe.Imaginou então uma mentira. Iria dizer que estava em dúvidas sobre se ela realmente o amava. Que por vezes ele a observava com o olhar perdido, e que imaginava seus pensamentos distantes, andando por outros amores. Que, inclusive, durante o sono, ela dissera repetidas vezes o nome de um homem (Pobrezinha! Não teria formas de contestá-lo. Pois estava dormindo.) Assim, ele queria que os dois se dessem um tempo. Que ficassem longe, provisoriamente, a fim de que os sentimentos pudessem ficar mais claros. A distância é um excelente remédio para as confusões do amor. E assim ele fez. Ela ouviu suas alegações tranquilamente, sem sobressaltos aparentes. Terminada a sua fala, quando ele se preparava para ouvir as contra-argumentações que deveriam se seguir, o que ele ouviu foi outra coisa: - Sabe? Cada vez mais me surpreende a sua sensibilidade. Como foi que você percebeu? Fiz tudo para esconder meus sentimentos de você! Eu não queria magoá-lo! Mas agora que você já sabe, é bom assumir a nossa verdade. De fato, há um outro. Chegou a hora de dizer adeus.

O que aconteceu naquele instante ele nunca pôde compreender. Pois aquelas palavras eram tudo de que precisava. Estava livre para se entregar sem culpas a sua nova paixão. Mas a única coisa que ele sentiu foi a dor imensa de uma paixão que repentinamente explodia por aquela mulher que lhe dizia adeus. E ele se viu solitário e triste, na plataforma vazia da estação, enquanto ela partia. Só lhe restava voltar para a casa vazia, onde ninguém o esperava. Como eu já disse: "não é a pessoa que amamos; é a cena".


LIÇÕES DE BICHOS E COISAS: Rubem Alves

CRÔNICAS: RUBEM ALVES


LIÇÕES SOBRE BICHOS E COISAS

Tenho inveja das plantas e  dos animais
Parecem-me tão tranquilos, possuidores  de uma sabedoria que nós não temos.
Como se desfrutassem da felicidade  do Paraíso.
Sofrem, pois não existe vida  sem sofrimento.
Mas sofrem sempre como se  deve, quando o sofrimento vem, na hora  certa, e não por antecipação.
Saber sofrer é uma lição  difícil de aprender.
Se o terrível nos golpeia  e não sofremos, algo está errado.
Pois como não chorar, se  o destino nos faz sangrar?

Se não choramos é porque  o coração está doente, perdeu a capacidade de sentir. Mas sofrer fora de hora é  doença também, permitir-se ser cortado por golpes que ainda  não aconteceram e que só existem como fantasmas da imaginação.

Os animais sabem sofrer. Nós  não.

Somos prisioneiros da ansiedade. Pois ansiedade é isto: sofrer fora de hora, por  um golpe que,
por enquanto, só existe no  futuro que imaginamos.

Talvez os animais sejam sadios  de alma e nós, doentes.
Jesus, sofrendo com a nossa  dor pelos sofrimentos que a ansiedade coloca no futuro, nos aconselhou a aprender da sabedoria das aves dos céus  e dos lírios dos campos, reconciliados com a vida, vivendo as dores e felicidades do presente, e livres dos fantasmas da imaginação ansiosa.
Sofremos pelo futuro e, por  isso, não podemos colher as modestas mas reais alegrias  que o presente nos oferece.

Acho que todo mundo sabe,  intuitivamente, que existe uma loucura na maneira de ser  dos homens.
E é por isso que a  nostalgia por um sítio ou por uma  casa na praia aparece como um dos  nossos sonhos mais persistentes.
Para longe do falatório dos  homens, quando todos falam e ninguém  escuta.

De volta para a natureza,  onde nada se diz e, no silêncio, se ouve uma sabedoria esquecida.
Pois só pregam sermões aqueles  que se julgam portadores de uma sabedoria  que os outros não têm.  Prega-se para convencer os outros  a reconhecerem os seus erros.
E para que, pela palavra  ouvida, eles se tornem melhores. Dizem que São Francisco pregava  sermões aos animais. Não acredito.  Mas, de que erro convenceremos  as plantas e os animais?
Pois são perfeitos em tudo  que fazem.
Todos eles se movem harmônicos  ao som da melodia que toca dentro  dos seus corpos.
Acredito que o santo conversava  com os animais, escutava o seu silêncio,  e, se ele falava alguma coisa, era  como o aluno que repete em voz alta  aquilo que aprendeu dos seus mestres.
Não era o santo que pregava  aos animais; eram os animais que lhe ensinavam a sua sabedoria.

Me dirão que plantas e animais  não falam.Engano.
É verdade que estão mergulhados no silêncio.
Mas é neste silêncio que  interrompe o vozerio dos homens que uma  voz é ouvida, vinda das profundezas do  nosso ser.
Pois é aí que mora a  sabedoria que perdemos.
Você tem dificuldade em ouvir  a voz das plantas e dos animais?
Pois que leia os poetas,  profetas do seu saber sem palavras.

A "Sugestão" de felicidade  de Cecília Meireles.
"Ao camelo que mastiga sua  longa solidão,
o pássaro que procura o  fim do mundo,
O boi que vai com inocência  para a morte."

E conclui: “Sede assim qualquer  coisa serena, isenta, fiel. Não como  os demais homens”.
Ela diz que deveríamos ser  como a flor que se cumpre sem pergunta,  a cigarra, queimando-se em música, com o que concorda Alberto  Caeiro, discípulo dos mesmos mestres:
Sejamos simples e calmos,Como os regatos e as árvores,E Deus amar-nos-á fazendo de  nos

Belos como as árvores e  os regatos,E dar-nos-á verdor na sua  primavera,E um rio aonde ir ter  quando acabemos!...

AS RAZÕES DO AMOR: Rubem Alves

 CRÔNICAS: RUBEM ALVES


AS RAZÕES DO AMOR
"Os místicos e os apaixonados concordam em que o amor não tem razões". Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa : "A rosa não tem"porquês". Ela floresce porque floresce." Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema As Sem-Razões do Amor. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento.

"Eu te amo porque te amo..." - sem razões... "Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo." Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. "Amor é estado de graça e com amor não se paga." Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que "amor com amor se paga". O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo.

"Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... Amor não se troca... Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo..." Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas eu, talvez por não estar apaixonado (o que é uma pena...), suspeito que o coração tenha regulamentos e dicionários, e Pascal me apoiaria, pois foi ele quem disse que "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos. Destas razões escritas em língua estranha o próprio Drummond tinha conhecimento, e se perguntava: "Como decifrar pictogramas de há 10 mil anos se nem sei decifrar minha escrita interior? A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco." O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá?

Ao apaixonado a decifração desta língua está proibida, pois se ele a entender, o amor se irá. Como na história de Barba Azul: se a porta proibida for aberta, a felicidade estará perdida. Foi assim que o paraíso se perdeu: quando o amor - frágil bolha de sabão - não contente com sua felicidade inconsciente, se deixou morder pelo desejo de saber. O amor não sabia que sua felicidade só pode existir na ignorância das suas razões. Kierkegaard comentava o absurdo de se pedir aos amantes explicações para o seu amor. A esta pergunta eles só possuem uma resposta: o silêncio. Mas que se lhes peça simplesmente falar sobre o seu amor - sem explicar. E eles falarão por dias, sem parar... Mas - eu já disse - não estou apaixonado. Olho para o amor com olhos de suspeita, curiosos. Quero decifrar sua língua desconhecida. Procuro, ao contrário do Drummond, as cem razões do amor...

Vou a Santo Agostinho, em busca de sua sabedoria. Releio as Confissões, texto de um velho que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escrita. E me defronto com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer: "Que é que eu amo quando amo o meu Deus?" Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Seria, talvez, o fim de uma estória de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras de Hermann Hesse, "o que amamos é sempre um símbolo". Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra..."